Sumário: Ciclo de Estudos Especiais de Pediatria - área de Infeciologia Pediátrica e Imunodeficiência.
Por deliberação do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto, EPE, de 18 de setembro de 2019, faz -se público que se encontram abertas inscrições, pelo prazo de 10 dias úteis, a contar da data da publicação deste aviso no Diário da República, para admissão ao Ciclo de Estudos Especiais de Pediatria - área de Infeciologia Pediátrica e Imunodeficiências - criado por despacho de Sua Excelência a Ministra da Saúde, de 11 de junho de 2019, e nos termos da Portaria 227/2007, de 05 de março.
Fundamentação
A infeciologia pediátrica, transversal a toda a Pediatria e constituindo uma das principais causas de recurso a cuidados médicos em idade pediátrica, evoluiu e complexificou-se nomeadamente pelos progressos rápidos da vacinologia e das possibilidades de prevenção de doenças através da vacinação, pela emergência de novas doenças infeciosas e ressurgimento de velhas doenças. As infeções pediátricas diferem das do adulto, com especificidades na etiologia, patogénese, clínica, diagnóstico, terapêutica, prevenção e prognostico. O uso racional de antibióticos e a emergência crescente de estirpes multirresistentes implicam a necessidade de um conhecimento mais aprofundado nesta área. A importância do controlo de infeção reveste-se de particularidades na área pediátrica que é fundamental conhecer e aplicar. A mobilidade crescente das populações e os fluxos migratórios facilitam uma globalização da infeção, gerando a necessidade de especialistas com formação específica neste campo.
A infeção pelo vírus da imunodeficiência humana emergiu há cerca de 35 anos, com desenvolvimentos extraordinários que permitiram, também na criança, passar de uma doença invariavelmente fatal para uma doença crónica. O seu tratamento é complexo, tem estado em permanente evolução, exigindo atualização científica regular. O sucesso da terapêutica depende da adesão, sendo particularmente complexo trabalhar esta questão em idade pediátrica. Atualmente é crescente o número de doentes infetados por transmissão mãe-filho que atinge a idade adulta, colocando novos desafios relacionados com a transição de cuidados.
O desenvolvimento científico e tecnológico permitiu o reconhecimento de um grande número de imunodeficiências primárias: o número de doenças identificadas elevou-se de poucas dezenas nos anos 90 para mais de 300 na atualidade. A identificação de doenças tratáveis assume a maior relevância devido à necessidade de se dar início urgente a uma terapêutica adequada que pode determinar a sobrevivência da criança e a sua qualidade de vida. O seu diagnóstico exige conhecimentos aprofundados na área da Imunologia, requerendo uma formação específica. A caracterização genética é obrigatória para o seu diagnóstico e tem evoluído rapidamente.
O número crescente de crianças e adolescentes submetidos a terapêuticas imunossupressoras, com os consequentes riscos infeciosos obriga a um conhecimento profundo que permita o reconhecimento precoce de infeções neste contexto.
A Infeciologia Pediátrica é reconhecida internacionalmente como uma das subespecialidades em cuidados terciários de Pediatria, tal como está definido pela Paediatric Section of the European Union of Medical Specialists, com um programa de formação específico, envolvendo as áreas da Infeciologia e da Imunologia, justificando a realização deste Ciclo de Estudos Especiais em Infeciologia Pediátrica e Imunodeficiências.
O programa tem como objetivo promover a formação adequada e experiência em patologia infeciosa pediátrica e imunodeficiências primárias, abrangendo matérias teórico-práticas e treino das técnicas indispensáveis aos propósitos de formação.
O programa abrange todas as áreas de assistência na área de Infeciologia Pediátrica: infeciologia geral, infeção VIH, imunodeficiências primárias e medicina do viajante. Inclui ainda estágio em consulta de Infeciologia e de Infeção VIH/SIDA no Serviço de Infeciologia (adultos).
As áreas de atividade incluem a atividade assistencial - enfermaria, hospital de dia e consulta (Infeciologia Geral, VIH, Imunodeficiências Primárias, Doenças Auto-inflamatórias e Viajante) e Laboratorial.
1 - Designação: Ciclo de Estudos Especiais de Infeciologia Pediátrica e Imunodeficiências
2 - Duração: O período de formação será de 24 meses.
3 - Regime e condições de trabalho: O regime de trabalho será de no mínimo 35 horas semanais, incluindo um período semanal de 12h no serviço de urgência de Pediatria, com participação e trabalho clínico, frequência de seminários especializados e realização de trabalho de investigação clínica e laboratorial.
4 - Local da sua realização: Serviço de Pediatria - Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Porto.
5 - Programa:
1 - Infeciologia geral
1.1 - Epidemiologia e história natural das infeções na criança.
1.2 - Interação hospedeiro/agente infeciosos e resposta imune às infeções.
1.3 - Classificação dos agentes infeciosos.
1.4 - Conhecimento dos métodos de diagnóstico de doenças infeciosas: exame direto, cultura, antigénios, reação em cadeia da polimerase, resposta serológica.
1.5 - Patogénese da infeção bacteriana, viral, fúngica e parasitária e das complicações pós infeciosas.
1.6 - Fatores de virulência e resistência intrínseca.
1.7 - Febre de origem desconhecida, síndrome febril prolongado, síndromes febris periódicos.
1.8 - Doenças bacterianas invasivas (incluindo sépsis, choque séptico, síndrome choque tóxico, infeções do sistema nervoso central e osteoarticulares, abcessos profundos).
1.9 - Doenças infeciosas comuns, como exantemas virais, infeções da pele e tecidos moles, respiratórias, orbitárias, gastrointestinais e urinárias.
1.10 - Infeções por vírus respiratórios, entéricos, Herpes, Parvovírus.
1.11 - Infeções fúngicas cutâneas - mucosas e invasivas.
1.12 - Infeções parasitárias, como leishmaniose, toxoplasmose, toxocariose, cisticercose.
1.13 - Tuberculose e outras micobacterioses.
1.14 - Infeções grave, atualmente pouco frequentes, como tétano e difteria.
1.15 - Doenças zoonóticas.
1.16 - Doença de Kawasaki e outras vasculites.
1.17 - Infeções no recém-nascido incluindo infeções de transmissão materno-fetal.
1.18 - Doenças de transmissão sexual.
1.19 - Infeções em crianças em cuidados intensivos, doentes oncológicos ou submetidos a terapêuticas imunossupressoras.
1.20 - Uso terapêutico e profilático de antimicrobianos. Farmacocinética e farmacodinâmica.
1.21 - Emergência de resistências aos antimicrobianos. Interpretação dos testes de sensibilidade aos antibióticos e antifúngicos e testes de genotipagem para avaliação de resistência aos antivirais.
1.22 - Terapêuticas complementares: imunoglobulinas, fatores de crescimento, agentes imunomoduladores e imunossupressores.
2 - Infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH)
2.1 - Prevenção da transmissão mãe-filho da infeção VIH.
2.2 - Vigilância de lactentes expostos a VIH.
2.3 - Diagnóstico, seguimento e tratamento de crianças e adolescentes com infeção VIH.
2.4 - Profilaxia e tratamento das infeções oportunistas.
2.5 - Profilaxia após exposição acidental.
3 - Estratégias de prevenção;
3.1 - Imunizações.
3.2 - Princípios básicos sobre vacinologia.
3.3 - Programa Nacional de Vacinação (PNV), vacinas extra PNV, vacinas em circunstâncias especiais.
3.4 - Infeções nosocomiais.
3.4.1 - Controlo de infeções hospitalares;
3.4.2 - Medidas de isolamento;
3.4.3 - Controle das infeções na comunidade;
3.5 - Programas de notificação, programas de vigilância, medidas preventivas, identificação de contactos e controlo de surtos.
4 - Consulta do viajante;
4.1 - Vacinação, fármacos profiláticos, medidas gerais de prevenção.
4.2 - Doenças tropicais.
4.3 - Avaliação de crianças migrantes e consulta pós viagem.
5 - Imunodeficiências primárias;
5.1 - Desenvolvimento do sistema imune.
5.2 - Semiologia, quadros clínicos e tratamento das imunodeficiências primárias, incluindo as doenças auto inflamatórias.
5.3 - Avaliação laboratorial dos défices imunitários primários.
5.4 - Abordagem dos doentes candidatos a transplante de células precursoras hematopoiéticas.
5.5 - Genética: Mecanismos de hereditariedade e genética molecular. Genética das Populações. Importância do Genoma Humano na compreensão da fisiopatologia, diagnóstico, prevenção e terapêutica das IDP. Terapia génica das IDP. Princípios do Aconselhamento Genético e possibilidades do Diagnóstico Pré-Natal aos doentes e famílias com IDP.
6 - Problemas éticos, sociais e psicológicos relativos às crianças e famílias;
7 - Investigação clínica:
7.1 - Conhecimentos de metodologia de investigação clínica.
7.2 - Planeamento, realização, avaliação e publicação de trabalhos de investigação clínica.
8 - Competências técnicas;
8.1 - Conhecimento da técnica e interpretação dos vários exames complementares relevantes para o diagnóstico e tratamento das doenças infeciosas.
8.2 - Técnicas de colheitas de produtos, para exames microbiológicos e requisitos de transporte.
8.3 - Técnica de colheita de líquido cefalorraquidiano por punção lombar.
8.4 - Cuidados com cateter venoso central.
8.5 - Técnicas de isolamento e cuidados com doentes imunocomprometidos.
8.6 - Interpretações dos estudos imunológicos: estudos por citometria de fluxo, estudos funcionais no diagnóstico de imunodeficiências primárias.
6 - Corpo docente:
O Corpo docente é composto pelos seguintes elementos:
Formação Clínica:
Laura Elvira Gonçalves Novo da Hora Marques, Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria, Coordenadora da Unidade de Infeciologia e Imunodeficiências do Serviço de Pediatria do Centro Materno-Infantil do Norte, CHP e Professora Convidada do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS);
Alberto António Moreira Caldas Afonso, Assistente Graduado Sénior de Pediatria, Diretor do Serviço de Pediatria do CMIN, C. H. Porto. Regente da cadeira de Pediatria do Mestrado Integrado de Medicina do ICBAS;
Carla Alexandra Freitas Zilhão - Assistente Hospitalar de Pediatria, Coordenadora da Unidade de Reumatologia do Serviço de Pediatra, CMIN, CHP;
Carla Maria de Meireles Rodrigues Teixeira - Assistente Hospitalar de Pediatria, Unidade de Infeciologia e Imunodeficiências do Serviço de Pediatria, CMIN, CHP;
Rui Sarmento e Castro, Assistente Graduado Sénior de Infeciologia, Diretor do Serviço de Infeciologia do CHP;
Ana Maria Fortuna - Geneticista, Mestre em Genética Humana, Diretora do Serviço de Genética do CMIN, CHP;
Esmeralda Maria Rodrigues Neves, Assistente Graduada de Patologia Clínica, Diretora do Serviço de Imunologia Clínica do Centro Hospitalar do Porto, Investigadora da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica ICBAS;
Júlia Vasconcelos, Assistente Graduada do Serviço de Imunologia Clínica do Centro Hospitalar do Porto;
Manuel Vilanova, Professor de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar;
Helena Ramos, Diretora do Serviço de Microbiologia Clínica do Centro Hospitalar do Porto.
Formação básica:
Genética:
Ana Fortuna, Diretora do Centro de Genética Médica Jacinto de Magalhães, Investigadora da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica ICBAS;
Imagiologia:
João Xavier, Diretor do Serviço de Radiologia Centro Hospitalar do Porto e Sara Pinto Magalhães - Assistente Hospitalar de Radiologia do CHP:
Investigação:
Mariana Monteiro, Endocrinologista, Professora Associada, ICBAS, Diretora da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB) ICBAS; Membro da Comissão Científica do Doutoramento em Ciências Médicas, ICBAS, Universidade do Porto;
Paula Jorge Investigadora principal do Grupo Clinical and experimental Human Genomics da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB) ICBAS, Regente da Unidade curricular de Genética na Escola Superior Saúde Santa Maria;
Bioestatística:
Laetitia Teixeira, Professora Assistente Convidada - ICBAS, Membro integrado do ICBAS-CINTESIS, Universidade do Porto, Membro colaborador do ISPUP-EPIUnit, Universidade do Porto.
7 - Indicações do local e meios técnicos
A formação assistencial teórico-prática irá decorrer:
Unidade de Infeciologia Pediátrica e Imunodeficiências do Serviço de Pediatria, CMIN CHP - 14 (catorze) meses
Serviço de Doenças Infeciosas do CHP - 3 (três) meses
Serviço de Imunologia do CHP - 3 (três) meses
Serviço de Microbiologia do CHP - 2 (duas) meses
Serviço de Genética, CMIN, CHP - 2 (duas) meses
Características da Unidade de Infeciologia e Imunodeficiência do Serviço de Pediatria do CHP
Experiência acumulada de mais de 30 anos, elementos médicos com atividade reconhecida e número de doentes que permitem experiência nas várias patologias.
Integrada no Serviço de Pediatria de um Hospital Central, com espaço físico adequado para as necessidades de atendimento dos doentes (consulta, hospital de dia e internamento em enfermaria ou unidade de cuidados intensivos, com quartos de isolamento com pressão positiva e negativa).
Enfermeiros e técnicos com experiência no atendimento, educação e seguimento das crianças e adolescentes com doenças infeciosas, infeção VIH e imunodeficiências primárias e suas famílias.
Apoio regular de psicologia, serviço social e serviço educativo.
Dispõe de equipa multidisciplinar constituída por Pediatria, Imunologia, Pedopsiquiatria, Nutrição, Serviço Social, Enfermagem com apoio estreito de profissionais de outros Serviços/Unidades Pediátricos do Hospital como Cardiologia, Gastroenterologia, Oftalmologia, Nefrologia, Neuropediatria, Pneumologia, Otorrinolaringologia, Ortopedia, Medicina Física e Reabilitação e Psicologia, Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos, Hematologia, Endocrinologia e Cirurgia.
Capacidade para desenvolver atividades de formação específica de forma regular e ter participação ativa em programas de formação.
Dispõe de meios bibliográficos e informáticos de fácil acesso e disponibilidade.
8 - Condições a que devem obedecer os candidatos e número de admissões: Os candidatos devem deter o Grau de Assistente Hospitalar de Pediatria Médica. Serão abertas duas (2) vagas.
9 - Critérios de seleção dos candidatos: Será dada prioridade aos candidatos que já disponham de alguma experiência de trabalho na área da Infeciologia Pediátrica (IP) e das Imunodeficiências. Primárias (IDP)
Os candidatos serão ordenados tendo em conta:
Avaliação de Curriculum Vitae, com especial relevância na área de IP e IDP
Motivação e interesse do candidato relativamente à área de diferenciação
Considera-se incompatível com a frequência desta formação a manutenção de atividades que impliquem incapacidade de cumprimento das tarefas assistenciais e a plena integração na equipa de trabalho.
10 - Júri de seleção
Alberto António Moreira Caldas Afonso - Assistente Graduado Sénior de Pediatria, Professor Catedrático Convidado de Pediatria do ICBAS, Diretor de Serviço de Pediatria e Diretor de CMIN do CHUP
Laura Elvira Gonçalves Novo da Hora Marques, Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria, Coordenadora da Unidade de Infeciologia e Imunodeficiências do Serviço de Pediatria do Centro Materno-Infantil do Norte, CHP e Professora Convidada do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS)
Esmeralda Maria Rodrigues Neves, Assistente Graduada de Patologia Clínica, Directora do Serviço de Imunologia Clínica do Centro Hospitalar do Porto, Investigadora da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica ICBAS
11 - Tipo de avaliação de conhecimentos
Será efetuada nos termos do artigo 9.º da Portaria 227/2007 de 5 de março.
Avaliação contínua no quotidiano, efetuada pelo corpo docente.
Avaliação final de conhecimentos será realizada pelo júri previamente nomeado para a seleção dos candidatos no acesso ao Ciclo de Estudos Especiais.
Da avaliação final constará de:
Discussão de relatório de atividades elaborado pelo candidato
Prova oral teórica de avaliação de conhecimentos
Artigo científico resultante de projeto de investigação
12 - Formalização das candidaturas: As candidaturas deverão ser formalizadas mediante requerimento, podendo ser entregue diretamente no Serviço de Gestão de Recursos Humanos, sito no Largo Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, nos dias úteis, no período compreendido entre as 08:30 horas e as 15 horas, ou remetido pelo correio, para a mesma morada, através de carta registada, com aviso de receção.
Documentos a apresentar:
1 - Requerimento dirigido ao Presidente do Conselho de Administração deste Hospital, onde deverá constar a identificação do requerente (nome, filiação, estado civil, naturalidade, nacionalidade, data de nascimento, número e data do bilhete de identidade/cartão de cidadão, número de identificação fiscal, residência, código postal, contacto telefónico e eletrónico e organismo a que pertence), e a identificação do Ciclo a que se candidata, mediante referência ao número e data do Diário da República onde se encontra publicado o presente aviso;
2 - Documento comprovativo do grau de assistente hospitalar
3 - Declaração do serviço de origem do candidato a autorizar a frequência do ciclo.
4 - Quatro (4) exemplares do Curriculum Vitae
13 - Informação: Aos candidatos selecionados que já detenham vínculo a outro estabelecimento ou serviços de saúde do Serviço Nacional de Saúde é garantida a frequência do Ciclo em comissão gratuita de serviço.
4 de outubro de 2019. - A Diretora do Serviço de Gestão de Recursos Humanos, Ilda Maria Correia de Magalhães.
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