Despacho Normativo 202/83
O nosso país investe anualmente apenas 0,35% do PNB em investigação e desenvolvimento industrial (I&D;). Apesar de ser a taxa mais baixa da Europa e que urge incrementar, traduz, mesmo assim, significativos recursos mobilizados.
Os resultados deste esforço, medidos no seu efeito sobre o sector produtivo, são escassos. Assim, pode dizer-se que, salvo casos pontuais, não se conseguiu transpor a fase do acompanhamento, ou do domínio de algumas áreas do conhecimento, atingindo apenas esporadicamente o estádio de investigação pré-competitiva com incidência na inovação tecnológica.
Quer dizer que, de um modo geral, não foi ainda possível estabelecer uma ponte entre a actividade de I&D; e o sector produtivo.
O problema é complexo, e mesmo em países mais desenvolvidos a ligação entre a actividade de I&D;, a comercialização de tecnologias e a produção é questão difícil, que tem encontrado soluções específicas em cada caso.
A política prosseguida envolve uma intervenção incentivadora dos governos ao investimento em I&D; nas próprias empresas do sector produtivo, privilegiando a criação de empresas de investigação e desenvolvimento.
Tal intervenção enquadra-se de um modo geral em planos tecnológicos que na Europa, e em particular na CEE, se procuram optimizar em esforço concentrado em programas plurinacionais de investigação pré-competitiva.
As empresas de investigação e desenvolvimento são empresas de base científica, desenvolvendo a sua actividade a nível da I&D; competitiva, em que os seus accionistas, tendo interesses na produção industrial e na actividade comercial dela decorrente, bem como em determinadas áreas do sector utilizador de serviços, imprimem uma orientação «para o mercado» ao esforço prosseguido na empresa.
Por isso, os próprios organismos de I&D; do Estado e de instituições independentes participam igualmente no capital de tais empresas, procurando deste modo criar condições particularmente propícias ao estabelecimento de ligações entre a investigação a nível pré-competitivo prosseguida nos referidos organismos e a I&D; a nível competitivo desenvolvida nessas empresas.
Nesta conformidade, e sem prejuízo do incremento global do investimento em I&D;, naturalmente condicionado e condicionante da política económica nacional, será orientação do Ministério da Indústria e Energia incentivar, no máximo das suas disponibilidades, a expansão da actividade de I&D; nas empresas a promover, como instrumento privilegiado da política de desenvolvimento tecnológico, a constituição de empresas de investigação e desenvolvimento.
Tal orientação está integrada num quadro mais amplo de reestruturação e modernização da indústria transformadora e de apoio à inovação industrial que o Governo vem definindo de acordo com o seu programa.
Desde já, porém, se estabelecem para as empresas de investigação e desenvolvimento algumas orientações básicas que se julgam convenientes e essenciais à sua criação.
Nestas condições, determino:
1 - Definição.
1.1 - As empresas de investigação e desenvolvimento (EID) são empresas de base científica, de investigação competitiva e fornecedoras de protótipos comercializáveis, preparados para a produção pelos seus accionistas e clientes.
1.2 - As EID são assim geradoras de novas oportunidades, com repercussão na economia e com incidência decisiva no progresso da investigação tecnológica realizável a nível pré-competitivo nos laboratórios do Estado, das universidades e das instituições independentes.
São, como tal, empresas adequadas ao domínio da ciência e tecnologia, com vista à sua adaptação às empresas industriais, visando, essencialmente, a produção e a subsequente comercialização por estas dos produtos que desenvolvem.
2 - Orientações.
2.1 - As EID são um instrumento privilegiado e determinante no desenvolvimento de uma progressiva autonomia tecnológica da indústria nacional e deverão, cumulativamente, verificar os seguintes requisitos:
a) Envolverem um significativo número de colaboradores com habilitações de nível superior;
b) Prosseguirem a sua actividade de I&D; a nível competitivo, visando a criação de produtos comercializáveis a produzir pela indústria nacional;
c) Serem constituídas em sectores industriais ou áreas tecnológicas prioritárias, de acordo com as orientações do Ministro da Indústria e Energia;
d) Estruturarem o seu capital social por forma que seja maioritariamente detido por empresas que, operando nos sectores de actividade produtores ou utilizadores dos produtos originados pela sua actividade de I&D;, estejam industrialmente implantadas no nosso país;
e) Apresentarem adequada estrutura financeira, nomeadamente assegurando níveis de autonomia anual média no triénio de arranque nunca inferiores a 40%.
2.2 - Os organismos personalizados do Ministério da Indústria e Energia poderão, desde que autorizados pelo respectivo Ministro, tomar participação no capital social das referidas empresas.
2.3 - É ainda desejável que tais empresas:
a) Procurem estabelecer com organismos de investigação do Estado e outras instituições tecnológicas contratos de I&D; pré-competitivos;
b) Fomentem a participação no seu capital de empresas utilizadoras dos produtos que irão desenvolver;
c) Promovam e apoiem empresas de tecnologia de ponta que possam vir a desenvolver-se na sua área tecnológica.
2.4 - O Ministério da Indústria e Energia promoverá, através das suas estruturas e com os meios disponíveis, a criação de tais empresas, que virão a dispor de incentivos a definir oportunamente pelo Governo.
Neste contexto, consideram-se como de desenvolvimento prioritário as empresas que prossigam as suas actividades nos seguintes domínios:
a) Tecnologias de informação e, em particular, microelectrónica;
b) Biotecnologia;
c) Tecnologias de materiais;
d) Tecnologias das novas energias.
2.5 - As EID referidas no número anterior deverão sempre maximizar a participação dos técnicos portugueses qualificados e deverão ainda fazer incidir a sua actividade no aproveitamento interno dos recursos naturais nacionais.
Ministério da Indústria e Energia, 18 de Outubro de 1983. - O Ministro da Indústria e Energia, José Veiga Simão.